quarta-feira, 31 de março de 2010

os profissionais do ombro amigo



Há um determinado tipo de seres acerca dos quais é muitas vezes dito serem generosos e disponíveis, pois estão sempre dispostos a ceder o seu ombro para aparar a lágrima alheia. Mas não o fazem desinteressadamente para ajudar os amigos, as pessoas por quem sentem algum afecto ou simplesmente por generosidade para com os (des)conhecidos. Não. Fazem-no por orgulho, para preencherem as suas vidas com as vidas dos outros, para se sentirem necessários, por quererem que os outros lhes reconheçam essa bondade que afinal não existe.Dedicam-se a esta tarefa de forma quase profissional e, muitas vezes, descuram aqueles que lhes estão próximos porque não estão dispostos a perder o seu tempo com acções que não lhes dêem a visibilidade que anseiam. Eu designo-os por profissionais do ombro amigo.Oferecem sempre os seus préstimos aos deprimidos crónicos, aos inseguros patológicos, aos infelizes com mania de perseguição, aos coleccionadores de infortúnios. E é com o mesmo afinco e algum desprezo e rancor que se afastam dos felizes, seguros e lutadores.Indignam-se com os optimistas, mas, sobretudo com os que, na sua perspectiva, reúnem as condições para adoptar uma postura do “coitadinho” e alugar o seu ombro por tempo indefinido e não o fazem.

Parecem-me abutres sempre à procura de presa e quando estão entre familiares e amigos, ou no almoço com os colegas, contam as suas glórias, que mais não são do que o reconto dos problemas dos outros, a enumeração dos conselhos que deram, das lágrimas que secaram, das palavras caridosas que proferiram, as horas dispensadas com o “coitado, se não fosse eu…

Fujo deles como o diabo da cruz e quando, inadvertidamente, deixo transparecer alguma tristeza ou preocupação e me aparece um destes profissionais disposto a oferecer os seus serviços gratuitos, procuro uma réstia de energia que me permita esboçar um sorriso e dizer “está tudo bem, é apenas cansaço”. E o abutre sem presa, após insistir um pouco para obter a confirmação, afasta-se amaldiçoando-me por não lhe ter permitido entrar em acção e aumentar o seu currículo quase-profissional.




terça-feira, 30 de março de 2010

constatações

Detesto enumerações.
Sou, por isso, acérrima defensora do et cetera e das reticências.



quinta-feira, 25 de março de 2010

E, acrescento eu, quem diz facebook diz blogues...

“… há cinco tipos de adição à rede: cibersexo, ciberrelacional, compulsão de rede, descargas e dependência de computadores. Os sintomas de perturbação FAD (Facebook Addiction Disorder) são semelhantes à adição à internet (…) Os doentes apresentam um certo desprezo pelas relações na vida real e entram constantemente no Facebook para ver as actualizações, no computador do trabalho, de casa ou no telemóvel.
Para testar o grau de adição ao Facebook, alguns grupos de apoio sugerem que se faça o teste. Mas há uma forma mais rápida de os testar: quantos dias consegue estar sem entrar na sua página? Se não aguentar sequer 24 horas, o mais provável é que a experiência na rede social esteja a ir longe demais.”


in Jornal i, nº 275, 25 de Março de 2010




segunda-feira, 22 de março de 2010

da 7ª arte (5) ou o elogio da mentira

Imaginemos um mundo onde todos dizem sempre a verdade; quando fazemos uma pergunta a resposta obtida é sempre verdadeira; não existe a dúvida e a noção de mentira é desconhecida. Perfeito? Não, terrível. Neste mundo sem mentira também não existe lugar para a criatividade e a imaginação, variantes positivas da mentira, nem para uma palavra de estímulo ou esperança para quem se encontra, aparentemente, num beco sem saída. Não podemos esquecer que a verdade e a crueldade, não raras vezes, estão muito próximas.
Este filme fez-me reflectir sobre a importância da mentira (num sentido mais lato, claro!) e pensar que, por vezes, somos fundamentalistas quando nos afirmamos totalmente contra toda e qualquer omissão ou mentira piedosa.

da 7ª arte (4)

Confesso: não sou apreciadora do cinema fantástico. No entanto, a Alice faz parte do nosso imaginário e o Johnny Depp é sempre o Johnny Depp. Valeu a pena.



quinta-feira, 18 de março de 2010

sabedoria (im)popular (3)

Não faças aos outros...


... o que eles não gostam que lhes façam.

Mia Couto

Ler Mia Couto é uma delícia. Demoro-me nas suas palavras e apetece-me ter sempre à mão um bloco e uma caneta para anotar muitas das suas frases que, além de revelarem um perfeito domínio da língua, expressam uma inteligência e sensibilidade raras.

"Velhice não é idade: é um cansaço. Quando ficamos velhos, todas as pessoas parecem iguais.", in Jesusalém

terça-feira, 9 de março de 2010

a preto e branco

Campo do Alentejo

segunda-feira, 8 de março de 2010

pois... os óscares...




Tenho de confessar que não vi nenhum dos filmes galardoados.

Na maior parte dos casos, nem vi os nomeados e nem me posso manifestar relativamente às escolhas.

E é caso para perguntar: onde é que eu me meti durante os fins-de-semana???

Dão -se alvíssaras a quem me souber informar.


domingo, 7 de março de 2010

há dias e dias

Não tenho nada contra a existência de dias disto, daquilo e do outro. Alguns servem para nos chamar a atenção para determinados temas ou situações específicas, outros nem por isso, mas, geralmente, não me incomodam. Algumas vezes, o que me incomoda é a forma como essas datas são festejadas e vivenciadas por nós. Um desses dias cuja comemoração me parece, quase sempre, disparatada é o dia internacional da mulher. Multiplicam-se por todo o lado palavras doces e elogiosas. As mulheres aparecem-nos como seres dotados de extrema beleza, sensualidade, altruísmo, sensibilidade e mais uma quantidade interminável de atributos. Elogiam-lhe a capacidade de ser, simultaneamente e de forma fantástica, mulheres, esposas, mães, profissionais, donas de casa e muito mais. Esses elogios são proferidos como verdades absolutas pelas mesmas vozes que frequentemente se referem a muitas mulheres como autênticos camafeus ou que gostam de assinalar a veia consumista e intriguista das mesmas. Ora, estas generalizações, sejam elas positivas ou negativas, irritam-me igualmente.
Parece-me artificial que se façam poemas e quadras, se ofereçam rosas, se organizem jantares como forma de enaltecer a mulher ou alertar para a situação precária em que muitas ainda vivem e nos restantes 364 dias do ano se aponte o dedo às mulheres com que nos cruzamos na rua e que, na azáfama diária, não arranjam as unhas, não cuidam do cabelo, compram a roupa na feira e não se preocupam com a lingerie ou com a celulite acumulada.
Penso que a homenagem possível é entender que nem todas têm possibilidade, tempo ou vontade de se apresentarem diariamente como actrizes de cinema ou manequins, pois para muitas mulheres a vida real está muito longe daquilo que se encontra nas revistas cor-de-rosa.

sábado, 6 de março de 2010

no aconchego do lar...


Está decidido! A visita ao CCB vai ser adiada para a próxima semana.
Itinerário para este fim-de-semana:
trabalho no escritório - descanso no sofá - trabalho no escritório - (repeat)….
…. com passagens pela cozinha.





Coração Independente, Joana Vasconcelos

quinta-feira, 4 de março de 2010

a morada, por favor

Quando me pedem a morada, hesito sempre.
Nunca sei qual das moradas devo indicar e começo a ponderar, seriamente, dar a matrícula do carro… seria muito mais seguro e honesto.




quarta-feira, 3 de março de 2010

da 7ª arte (3)


Delicioso, sobretudo na parte documental.
Um retrato do Portugal rural, desconhecido de tantos.

terça-feira, 2 de março de 2010

top 3

Durante muito tempo, pensei que a situação que melhor ilustrava como sou despistada e propícia a protagonizar figuras tristes era o dia em que levei o carro para o trabalho, mas, no regresso, me esqueci desse pormenor e regressei a casa, caminhando alegremente durante 30 minutos, e só me lembrando do local onde havia deixado o meu fantástico bólide, umas horas mais tarde, quando quase desesperava na rua com a bagagem para o fim-de-semana na mão.
Mais recentemente, abasteci quarenta euros de combustível numa área de serviço do norte do país e só no momento de efectuar o pagamento me apercebi de que tinha comigo a mala errada, não tendo, por isso, dinheiro, cartões ou documentos. Corei, gaguejei, atrapalhei-me e acho que fui convincente, pois consegui continuar a viagem com o compromisso de pagar na semana seguinte (o que, de facto, fiz). Só não me meti num buraco porque não encontrei nenhum e pensei que pior que isto não me poderia acontecer.
Nesta sexta-feira arrumei a bagagem com grande velocidade e coloquei-a no porta-bagagem; não havia tempo a perder! Guardei toda a bagagem. Todinha. Incluindo a chave do carro. A minha chave suplente encontrava-se a duzentos quilómetros de distância e apenas quatro horas mais tarde consegui tê-la na mão e iniciar, desta vez mais calmamente, o fim-de-semana.
Começa a tornar-se difícil escolher o meu melhor momento.