domingo, 7 de março de 2010

há dias e dias

Não tenho nada contra a existência de dias disto, daquilo e do outro. Alguns servem para nos chamar a atenção para determinados temas ou situações específicas, outros nem por isso, mas, geralmente, não me incomodam. Algumas vezes, o que me incomoda é a forma como essas datas são festejadas e vivenciadas por nós. Um desses dias cuja comemoração me parece, quase sempre, disparatada é o dia internacional da mulher. Multiplicam-se por todo o lado palavras doces e elogiosas. As mulheres aparecem-nos como seres dotados de extrema beleza, sensualidade, altruísmo, sensibilidade e mais uma quantidade interminável de atributos. Elogiam-lhe a capacidade de ser, simultaneamente e de forma fantástica, mulheres, esposas, mães, profissionais, donas de casa e muito mais. Esses elogios são proferidos como verdades absolutas pelas mesmas vozes que frequentemente se referem a muitas mulheres como autênticos camafeus ou que gostam de assinalar a veia consumista e intriguista das mesmas. Ora, estas generalizações, sejam elas positivas ou negativas, irritam-me igualmente.
Parece-me artificial que se façam poemas e quadras, se ofereçam rosas, se organizem jantares como forma de enaltecer a mulher ou alertar para a situação precária em que muitas ainda vivem e nos restantes 364 dias do ano se aponte o dedo às mulheres com que nos cruzamos na rua e que, na azáfama diária, não arranjam as unhas, não cuidam do cabelo, compram a roupa na feira e não se preocupam com a lingerie ou com a celulite acumulada.
Penso que a homenagem possível é entender que nem todas têm possibilidade, tempo ou vontade de se apresentarem diariamente como actrizes de cinema ou manequins, pois para muitas mulheres a vida real está muito longe daquilo que se encontra nas revistas cor-de-rosa.