quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

o clique

Não é raro passar muito tempo sem telefonar aos amigos que não encontro com frequência. Quando me justifico com a falta de tempo, custa-me a acreditar e oiço-me dizer "pois, pois... desculpa esfarrapada. Arranjamos sempre tempo para fazer aquilo que queremos e, afinal, um telefonemazinho faz-se (quase) em qualquer lugar". E fico envergonhada. Penso que sou a pior amiga do mundo, uma egoísta sem tempo para os outros e patati patata. No entanto, sei que isso não é verdade, mas perante a dificuldade em me perceber desisto de pensar no assunto.


Hoje deu-se o clique e consegui entender. Não deixo de telefonar por falta de tempo, mas por falta de tempo de qualidade. Sou incapaz de telefonar a um amigo que não vejo há dois meses enquanto faço as compras de supermercado ou quando viajo nos transportes públicos, enquanto espero que me atendam no restaurante ou quando disponho apenas de cinco minutos para conversar. Quando telefono a alguém com quem não me encontro frequentemente faço-o com a intenção de falar e de ouvir, de contar e saber as novidades e, também, trocar ideias. Faço-o com o objectivo de lhe dedicar algum do meu tempo. Em regime de exclusividade.


Além disso, também não gosto de me sentir um operário na linha de montagem e, por isso, não faço dois ou três telefonemas seguidos. Dou-me tempo para absorver o que partilhado.


Nesta situação, como em muitas outras, prefiro a qualidade à quantidade.