domingo, 23 de janeiro de 2011

nem tudo o que parece é (2)

Desde muito cedo, percebi que sou uma pessoa preguiçosa e desorganizada. Sempre que me caracterizei dessa forma junto de colegas de escola ou de trabalho ouvi vozes de discordância: “Nem pensar. Tens tudo tão organizado. Cumpres todos os prazos. Trabalhas imenso.” E fico feliz; é bom saber que consigo disfarçar. O que a maior parte das pessoas não sabe é que eu faço um trabalho rigoroso, intenso e permanente de autopoliciamento. Faço listas mentais e/ou escritas de tarefas, estipulo prazos, defino prioridades, organizo pastas e dossiers e avalio constantemente o cumprimento daquilo a que me propus. Não me dou tréguas. Mas, naturalmente, este esforço diário cansa-me e, de tempos a tempos, o polícia que vive dentro de mim adormece um pouco e entro num sistema de serviços mínimos, em que só aquilo que é prioritário é feito. É o caos. As pastas desorganizam-se, as tarefas secundárias acumulam-se; eu entro, rapidamente, em parafuso e o sinal de alerta dispara. Acto contínuo, estipulo uma agenda muito mais rígida para os dias que se seguem de forma a compensar os dias (por vezes, apenas algumas horas) de liberdade.