segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Não é bem assim, Sr. Ministro


Numa entrevista à revista Única, Nuno Crato afirmou
Vejo os rankings como uma ajuda a ler os dados disponibilizados. É muito importante que os pais percebam que há escolas a funcionar muito melhor do que outras. E isso é um incentivo a todas para que melhorem.”

É preciso recordar que os rankings são elaborados com base nas classificações obtidas nos Exames Nacionais. Para os rankings pouco importa se a escola se situa na Lapa ou na Damaia, se os alunos que a frequentam têm explicadores ou familiares que os ajudam ou se, pelo contrário, são os únicos da família que sabem ler e escrever. Não importa se os pais acompanham os resultados escolares e servem de inspiração para os seus filhos, motivando-os a terem aspirações mais elevadas, ou se nem sequer sabem em que ano de escolaridade estão matriculados (ou o filho nem sabe por andam os pais). Há crianças que após as aulas têm apoio para a realização das tarefas escolares e outras, porém, que têm de ajudar os pais a cavar batatas ou tratar do gado. Alguns meninos regressam do fim-de-semana com aprendizagens realizadas em passeios ou viagens e outros perguntam-nos se vimos na tvi a rusga que houve lá no bairro e em que levaram o irmão mais velho. Não estou a exagerar em nenhuma das situações e conheço exemplos de todas.
Claro que há crianças oriundas de meios sociais muito favorecidos que são alunos medíocres e crianças que crescem num contexto social problemático e são alunos brilhantes, mas falo de maiorias. Das maiorias que, em certas zonas, frequentam determinada escola.
Não quero desresponsabilizar a escola. Em condições adversas há escolas que fazem um trabalho magnífico e outras que, em situações menos difíceis, funcionam mal e não se empenham num projecto colectivo de melhoria. Naturalmente, em ambos os casos deve haver uma análise e a consequente definição de medidas a manter e/ou a implementar. Não me digam é que os rankings servem para os pais saberem quais as escolas que funcionam bem ou mal, porque isso não é, de todo, verdade.




Imagem usada por Miguel Santos Guerra num seminário sobre este tema.