segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

facebook, o evangelizador

Durante a minha infância e adolescência, não tive uma educação para o que agora se designa de educação para o otimismo, para a felicidade e outras coisas positivas. Fui educada para o trabalho, o esforço, a seriedade, a responsabilidade, o rigor e outras características e valores que nos remetem imediatamente para caras carrancudas e azedas. 
Não havia nessa forma de educação qualquer fundamento religioso ou uma linha pedagógica, era apenas uma forma de ser e de se estar na vida. Brincadeiras, gargalhadas, diversão? Também aconteciam, pois claro. Imediatamente seguidas de um alerta: cuidado! tanta galhofa hoje, deve estar quase a acontecer alguma coisa!! Animais? Nem pensar! Sujam a casa. Brinquedos espalhados pelo chão? Nunca! A casa tem de estar sempre impecável! Palavras amorosas? Para quê? A vida não é assim. 
Felizmente, saí de casa antes de ter perdido todo e qualquer resquício de sentido de humor e a capacidade de me rir de mim e de alguns percalços da vida. A tempo de saber que a melhor forma de encarar a vida é com leveza. Que o copo não está sempre meio vazio. 
Saí a tempo e nunca desisti de "evangelizar" a minha mãe. A vida não é só trabalho, obrigações, dever. Nunca me pareceu que estivesse a conseguir provocar grandes alterações e eis que, vindo do nada, o facebook revela-me uma mãe que partilha fotos pirosas de animaizinhos fofinhos e repletas de frases piegas. Revela-me uma mãe que acha piada às gracinhas das crianças e que fica maravilhada com paisagens e dizeres espirituosos. Podias ter chegado mais cedo, facebook.