Se calhar não usavam o verbo "poupar", mas na prática era isso que faziam. Não se faziam despesas que não eram planeadas; reaproveitava-se tudo o que era possível, recorrendo a maior ou menor imaginação; roupa velha transformava-se em nova; nunca havia alimentos fora da validade ou desperdiçados; pensava-se em ter "um pé de meia" para alguma eventualidade... Penso que não usavam o verbo "poupar", mas era isso o que fazia a minha mãe e que já tinha feito a mãe dela. Foi assim que eu cresci. E nunca pensei em fazer férias a crédito, comprar um computador a prestações ou gastar um ordenado numa mala. Mesmo contrariando os estudiosos que dizem que as crianças que não receberam mesada terão dificuldades em ser adultos que sabem gerir adequadamente um orçamento familiar, segui, de forma menos rigorosa, é certo, aquilo que me habituei a ver. No entanto, não sei se por causa disso ou se apesar disso, já não suporto a imensidão de especialistas na arte de poupar que pululam pelos jornais, livros, programas televisivos e de rádio... Aborrecem-me até ao tutano as pessoas que, à hora do almoço ou num insuspeito cafezinho, me querem dar endereços de sites e blogues dedicados a poupanças, que colecionam folhetos, vales e cupões, que gastam horas a pesquisar ao pormenor como conseguirão comprar 8937346 pacotes de guardanapos pelo preço de 167348, que, na ânsia de "poupar", acumulam 10374 embalagens de um detergente para a máquina de lavar loiça, embora ainda nem tenham comprado a máquina, ou 9834747 pacotes de fraldas para as primeiras crises de incontinência que esperam ter apenas daqui a 50 anos.