Pelas razões que nós bem sabemos, nos últimos tempos, muitas colegas e conhecidas descobriram talentos escondidos e desataram a costurar, bordar e tricotar, ou a vender para uma ou várias marcas de cosméticos. Nada contra. Ou melhor, quase nada. A parte que me começa a incomodar é que se tornou impossível tomar um café ou ir à casa de banho sem que me tentem impingir um pano de cozinha com umas rendinhas muito catitas, um saquinho bordado para guardar não sei o quê, uma máscara de pestanas ou um gel de banho. E muitas delas estão de tal forma embrenhadas no papel de empresárias que desenvolveram técnicas de marketing agressivo e pouca capacidade de aceitar uma recusa, mesmo quando lhes é explicado que na minha família sou, provavelmente, o único elemento do género feminino que não tem mãos de fada para os labores, pelo que não me faltam prendas de todos os modelos e feitios, ou que o creme exfoliante que já lhes comprei ainda nem começou a ser usado.
É que eu, que não tenho mais talentos, também vivo em Portugal e não posso gastar o que ainda não me cortaram do ordenado a comprar tudo aquilo que me queiram vender.