É assustador pensar nas barbaridades que, em nome da ciência, se estarão a cometer neste momento, perante os nossos olhos e concordância, e que se virão a comprovar não serem mais do que uma brutalidade.
“Itard [séc. XIX] levou a cabo os mais extravagantes procedimentos médicos com crianças (...) surdas, depois de os seus muitos anos de tentativas para lhes ensinar técnicas de oralidade se terem revelado completamente infrutíferos. Começou por aplicar electricidade nos ouvidos de alguns alunos (...) Furaram-se ainda os tímpanos de seis estudantes, mas a operação mostrou-se dolorosa e infrutífera, e Itard acabou por desistir. Mas já não o fez a tempo de evitar a morte de um estudante, que faleceu na sequência do seu tratamento... (Lane, 1992:191)”
“Alexander Graham Bell (...) considerava que, uma vez que existiam padrões familiares de surdez, se deviam recear resultados calamitosos, correndo-se, mesmo o risco de eles virem a constituir “uma variedade da raça humana na qual a surdez seria a regra e não a excepção” (Ibid.: 193).
Segundo nos diz Lane, Bell chegou a recomendar a criação de uma lei que proibisse o casamento entre pessoas pertencentes a famílias com mais de um surdo. Isso abrangeria o casamento entre pais ouvintes que pertencessem a essas famílias. No entanto, acabou por considerar que seriam precisos mais dados para justificar a aprovação de uma tal lei.”
(Maria do Céu Gomes, Lugares e Representações do Outro – a surdez como diferença)