Para a maior parte das pessoas não passará de um
fait-divers, mas a mim tocou-me. Falo da morte do adolescente em Lloret del
Mar. E tocou-me porque assisti várias vezes ao entusiasmo e empenho com que os
grupos de estudantes preparam estas viagens, muitas vezes logo a partir do
10ºano. E não, não se trata apenas de
querer ir passar uns dias de copos, sexo e droga como muita gente gosta de
afirmar, como se por cá nada disso fosse possível. Em alguns grupos trata-se de
fazer a primeira “grande” viagem. É a primeira experiência sem os pais, é uma
experiência de grupo. É muito difícil
recordarmo-nos da importância que o grupo tem durante a adolescência?
Já sei, todos sabemos, que grande parte dos comentadores dos
jornais online sofre de profundas frustrações e destila ódio contra tudo o que
mexe, contra o que não mexe também, mas não deixa de me incomodar a
insensibilidade que se apregoa com orgulho. Querem adolescentes que nunca, mas
nunca, falham, pais que educam de tal forma que garantem que os filhos nem
sequer torcerão um pé, controlo apertado para todos, para tudo. Quanto aos
ofendidos porque a autarquia adiantou o pagamento das viagens de regresso,
nota-se que não sabem o que é viver num local onde as pessoas se conhecem, onde
a morte de uma pessoa não é tratada com desprezo, onde se protege quem é da
terra (saloiice, já sei).
Por vezes acho que me adaptei muito bem à cidade, que aqui é
o meu lugar. Mas fico sempre muito feliz porque tive a oportunidade de conhecer
o outro lado.