Quando eu era
adolescente, era quase obrigatório ter um livro de autógrafos com lindas
dedicatórias dos amigos, inimigos, conhecidos ou desconhecidos. Na realidade
quem se desse ao trabalho de ler as várias páginas rabiscadas não saberia
distinguir uns dos outros, pois todas as dedicatórias eram igualmente afetuosas
e reveladoras de sentimentos de amizade eternos. O funcionamento era o seguinte: quem estivesse com uma caneta na
mão e disposto a autografar recebia todos os livros de autógrafos das redondezas
e depois era levar essa tarefa toda a eito. Eu, já nessa altura, nutria um
particular desagrado pela expressão “da tua amiga não de sempre, mas para
sempre”. Que nervos que me dava! Nunca tínhamos sido amigas e agora íamos ser
amigas para sempre? Só por causa de umas palavritas naquele livro? Muitas
vezes, eu comprovava que a minha teoria estava certa logo no intervalo
seguinte.
Lembrei-me desta
situação por outra que é, em certa medida, diferente. Por vezes,
aparecem-nos pessoas que vêm imbuídas
desse espírito de amizade eterna e decidem, unilateralmente, que temos mesmo de
ser amigas inseparáveis. A tempo inteiro. E então, de repente, marcam
cafezinhos, cinemas e outros que tais. Disponibilizam-se para nos ajudarem a
fazer aqueles bolinhos, molho bechamel
ou alheira à moda de Mirandela, decidem em que momentos podemos caminhar
juntas pelo jardim ou qual o ginásio que devemos frequentar e consideram que a
sua presença é essencial nas 24 horas do nosso dia. Mas não é. Podem ser
pessoas queridas, com quem gostamos de conversar um pouco e, uma vez ou outra,
beber o tal café, mas não partilhamos o mesmo entusiasmo e ansiedade pelos
momentos em conjunto. E, sobretudo, não sentimos necessidade de passar com elas
todos os momentos de lazer de que dispomos.
Eu tenho a certeza de que há mais pessoas a serem “perseguidas” desta
forma, mas dizê-lo não é, de facto, socialmente correto.