quarta-feira, 2 de maio de 2012

amigas não de sempre, mas para sempre


Quando eu era adolescente, era quase obrigatório ter um livro de autógrafos com lindas dedicatórias dos amigos, inimigos, conhecidos ou desconhecidos. Na realidade quem se desse ao trabalho de ler as várias páginas rabiscadas não saberia distinguir uns dos outros, pois todas as dedicatórias eram igualmente afetuosas e reveladoras de sentimentos de amizade eternos. O funcionamento era  o seguinte: quem estivesse com uma caneta na mão e disposto a autografar recebia todos os livros de autógrafos das redondezas e depois era levar essa tarefa toda a eito. Eu, já nessa altura, nutria um particular desagrado pela expressão “da tua amiga não de sempre, mas para sempre”. Que nervos que me dava! Nunca tínhamos sido amigas e agora íamos ser amigas para sempre? Só por causa de umas palavritas naquele livro? Muitas vezes, eu comprovava que a minha teoria estava certa logo no intervalo seguinte.

Lembrei-me desta situação por outra que é, em certa medida, diferente. Por vezes, aparecem-nos  pessoas que vêm imbuídas desse espírito de amizade eterna e decidem, unilateralmente, que temos mesmo de ser amigas inseparáveis. A tempo inteiro. E então, de repente, marcam cafezinhos, cinemas e outros que tais. Disponibilizam-se para nos ajudarem a fazer aqueles bolinhos, molho bechamel  ou alheira à moda de Mirandela, decidem em que momentos podemos caminhar juntas pelo jardim ou qual o ginásio que devemos frequentar e consideram que a sua presença é essencial nas 24 horas do nosso dia. Mas não é. Podem ser pessoas queridas, com quem gostamos de conversar um pouco e, uma vez ou outra, beber o tal café, mas não partilhamos o mesmo entusiasmo e ansiedade pelos momentos em conjunto. E, sobretudo, não sentimos necessidade de passar com elas todos os momentos de lazer de que dispomos.  Eu tenho a certeza de que há mais pessoas a serem “perseguidas” desta forma, mas dizê-lo não é, de facto, socialmente correto.