terça-feira, 8 de outubro de 2013

novas oportunidades - contracorrente


Por uma ou outra razão, volta e meia lá aparecem uns artigos, comentários, opiniões ou meros bitaites sobre os programas de educação e formação de adultos, normalmente referindo-se às famigeradas novas oportunidades.
Muitas vezes leio ou ouço as críticas e não digo nada. Afinal toda a gente sabe que era “uma palhaçada”, que “se davam certificados apenas por contar a história de vida”, que era “um embuste em que se engavam os formandos e os formadores ganhavam uns trocos sem fazer nenhum”.
Às vezes chego a pensar que se toda a gente sabe isso tudo, eu é que estarei errada e a experiência que eu tive durante 18 meses foi um caso isolado. Ou se calhar não foi um caso isolado, mas quem fala muito sobre o assunto até o faz de cor, baseado na ideia negativa que se criou.  A experiência que eu, como mediadora de um curso de educação e formação de adultos, tive faz-me saber o seguinte:
- não foram 2 ou 3 meses e apenas meia dúzia de aulas, foram 18 meses com aulas diárias entre as 19h00 e as 23h30.
- é verdade que se escreveu uma autobiografia, se refletiu sobre as aprendizagens e experiências realizadas ao longo da vida e a forma como as mesmas contribuíram para aquisição ou desenvolvimento de competências;
- mas também se traçaram objetivos e se definiram estratégias para os alcançar;
 - incrementou-se o hábito de ler jornais e de comentar criticamente as notícias da atualidade, a nível económico, político e social;
- leram-se obras de referência da literatura portuguesa e estrangeira;
- também se discutiu cinema, após o visionamento em casa ou na escola.
- discutiram-se leis fundamentais no dia-a-dia como cidadãos: código do trabalho, lei do arrendamento, entre outras;
- simularam-se operações bancárias: empréstimos, depósitos, aplicações financeiras. Discutiram-se as vantagens e desvantagens, explorou-se a terminologia bancária;
- realizaram-se visitas de estudo. Alguns formandos visitaram, pela primeira vez, um museu e conseguiram apreciar uma obra de arte;
- organizaram-se encontros e fóruns temáticos, para os quais se convidaram especialistas em vários domínios do conhecimento;
- efetuaram-se as diligências necessárias para organizar acontecimentos informativos e culturais, abertos à comunidade local,  etc.
- ...
Em suma, foram dezoito meses em que se promoveu a discussão de ideias e em que os formandos se consciencializaram da importância do conhecimento e da informação.
Naturalmente, nem todos os formandos mostraram o mesmo empenho. Nada que seja estranho ao ensino regular ou a qualquer ambiente profissional. Mas o balanço foi bastante positivo e em nada se enquadra nos comentários depreciativos que por aí pululam sobre as novas oportunidades.