Por
uma ou outra razão, volta e meia lá aparecem uns artigos, comentários, opiniões
ou meros bitaites sobre os programas de educação e formação de adultos,
normalmente referindo-se às famigeradas novas oportunidades.
Muitas
vezes leio ou ouço as críticas e não digo nada. Afinal toda a gente sabe que
era “uma palhaçada”, que “se davam certificados apenas por contar a história de
vida”, que era “um embuste em que se engavam os formandos e os formadores
ganhavam uns trocos sem fazer nenhum”.
Às
vezes chego a pensar que se toda a gente sabe isso tudo, eu é que estarei
errada e a experiência que eu tive durante 18 meses foi um caso isolado. Ou se
calhar não foi um caso isolado, mas quem fala muito sobre o assunto até o faz
de cor, baseado na ideia negativa que se criou. A experiência que eu, como mediadora de um
curso de educação e formação de adultos, tive faz-me saber o seguinte:
- não
foram 2 ou 3 meses e apenas meia dúzia de aulas, foram 18 meses com aulas diárias
entre as 19h00 e as 23h30.
- é
verdade que se escreveu uma autobiografia, se refletiu sobre as aprendizagens e
experiências realizadas ao longo da vida e a forma como as mesmas contribuíram
para aquisição ou desenvolvimento de competências;
-
mas também se traçaram objetivos e se definiram estratégias para os alcançar;
- incrementou-se o hábito de ler jornais e de comentar
criticamente as notícias da atualidade, a nível económico, político e social;
- leram-se
obras de referência da literatura portuguesa e estrangeira;
- também
se discutiu cinema, após o visionamento em casa ou na escola.
- discutiram-se
leis fundamentais no dia-a-dia como cidadãos: código do trabalho, lei do
arrendamento, entre outras;
- simularam-se
operações bancárias: empréstimos, depósitos, aplicações financeiras.
Discutiram-se as vantagens e desvantagens, explorou-se a terminologia bancária;
- realizaram-se
visitas de estudo. Alguns formandos visitaram, pela primeira vez, um museu e
conseguiram apreciar uma obra de arte;
-
organizaram-se encontros e fóruns temáticos, para os quais se convidaram
especialistas em vários domínios do conhecimento;
-
efetuaram-se as diligências necessárias para organizar acontecimentos
informativos e culturais, abertos à comunidade local, etc.
-
...
Em
suma, foram dezoito meses em que se promoveu a discussão de ideias e em que os
formandos se consciencializaram da importância do conhecimento e da informação.
Naturalmente,
nem todos os formandos mostraram o mesmo empenho. Nada que seja estranho ao
ensino regular ou a qualquer ambiente profissional. Mas o balanço foi bastante
positivo e em nada se enquadra nos comentários depreciativos que por aí pululam
sobre as novas oportunidades.