A minha avó, nascida em 1908, não concebia a hipótese de haver uma mulher
solteira na família. Se uma mulher ficasse solteira isso significava que era
uma mulher “falada”, uma vergonha, portanto. Para garantir que não se via a
braços com essa situação tentava ensinar as filhas e as netas mais
velhas a lidar com os homens (com pouco sucesso, diga-se em abono da verdade).
Lembro-me de ouvi-la aconselhar a minha irmã: “Filha, nós
temos de fazê-los acreditar que têm sempre razão, que são sempre eles que têm as
ideias e que decidem tudo. Mesmo quando não concordamos, dizemos que sim e
tentamos, a pouco e pouco e de forma muito discreta, levá-los a fazer o que nós
queremos. E, enquanto falamos, é preciso cuidado, se vemos que eles estão a
ficar irritados com o que dizemos, ficamos caladas e deixamos que sejam eles a
orientar a conversa. Não devemos aborrecê-los com as nossas coisas porque senão
começam a vir tarde para casa e um homem na rua... nunca se saber...”
Se ainda vivesse, a minha avó teria mais de 100 anos e, certamente,
ainda pensaria da mesma forma. Surpreendentemente, alguns jovens jovens de
trinta e poucos também.