Uma pessoa tem uns dias de cão.
Sente-se zangada, triste, injustiçada e sabe que precisa de uns minutos ou de umas
horas em que possa estar sozinha e viver essa tristeza, mas não pode. Tem
trabalho para fazer, prazos apertados a cumprir, está sempre rodeada de gente,
tem de sorrir, participar, parecer feliz. Ao recordar, mentalmente, a agenda vê
que só terá 2 ou 3 horas para dedicar a esta peninha de si própria na 5ª feira
de manhã e, até lá, a ocasião é propícia
à diversão. Define uma estratégia: até 4ª à noite vai dedicar-se à alegria e
ao esquecimento, mas sempre de olhos postos na 5ª de manhã.
Quinta-feira de manhã. Passou muito
tempo. A tristeza e zanga ainda espreitam, mas já não merecem que se lhes
dedique uma manhã inteira.
Não sei se estarei a ver o copo meio vazio, mas não estou certa de que isto seja positivo.