A minha infância e adolescência foram passadas numa vila,
onde tudo o que se fazia era controlado e criticado por um grupo de pessoas
(velhas e menos velhas) que não tinha mais que fazer. Criticava-se o
comprimento da saia da Maria, o penteado da Joana, os quilos de carne de porco
que a vizinha do lado comprava para o marido, o tempo que a Adélia passava no
café, o carrão que os vizinhos da frente tinham comprado, as gargalhadas da
Adelina, o mau humor do Manel e muito mais. Sempre estive convencida de que este
interesse pela vida alheia e esse deixar-se irritar pelo que os outros vestem,
compram e fazem da sua vida era o reflexo de vidas muito vazias, numa terra com
pouca oferta em termos de entretenimento e que era uma forma de passar o tempo.
Mas eis que surgiram os blogues e vejo pessoas com vidas ativas, (supostamente)
preenchidas e que têm, certamente, muito
com que se ocupar, ficarem incomodadas com as alças de soutien que se veem
debaixo do top de algumas mulheres, com
as calças justas que alguns homens vestem, com as unhas de gel que dão um ar
pimba, com o facto de as pessoas gordas também andarem na rua, e até nas praias,
e a lista poderia continuar. E se no primeiro caso percebo que a maledicência fosse
uma forma de ocupação no segundo não lhe encontro qualquer justificação e considero-a
uma perda de tempo.