A pretexto do Natal tenho lido e ouvido
algumas pessoas comentarem as piores prendas que já receberam. Entusiasmam-se e
entram numa espécie de concurso. A conversa começa a aborrecer-me assim que
aparece o adjetivo. Ora, se foi uma prenda deduzo que não se pagou por ela.
Nesse caso, pode ser mais ou menos útil, mais ou menos bonita. Mas entrar num
concurso para a pior prenda não será um pouco excessivo?
Aparentemente, muita gente espera
que todos os outros sejam entendidos em questões de moda e estilo e profundos
conhecedores de regras e etiqueta. Além de endinheirados, obviamente.
Há quem fique ofendido porque a
tia-avó ofereceu à sua princesa uma sacola do Noddy, (um horror!), pois a
criança apenas idolatra a Hello Kitty. Eu explico: para a tia-avó, bem como
para um elevado número de pessoas, são todos bonecos com nomes estrangeiros,
ok?
Também há quem sinta a sua
feminilidade beliscada por receber um trem de cozinha. Nem toda a gente
considera que quando se oferece uma panela se está a dizer que o lugar da mulher
(ou homem) é na cozinha. Quando se oferece umas chuteiras quer dizer que o
lugar do destinatário é no campo de futebol? Um pijama significa que deve
passar a vida na cama? E uma lingerie mais ousada?
O que dizer de quem se melindra com
o pacote de bolachas que a velhota do 3.º esquerdo embrulhou num papel de
presentes do ano anterior e ofereceu, juntamente com os votos de feliz Natal?
Nem sei... com duzentos euros de reforma eu ficar-me-ia pelos votos natalícios.
As meias, os naperons, as cuecas,
as canecas... Sim. Faz tudo parte. No fundo, o mais importante é a presença, o
sorriso, a lembrança, mesmo quando acompanhados de uma qualquer expressão
pirosa. Porque tudo isso faz parte da vida fora das revistas.